domingo, 11 de dezembro de 2011
Lidando com os defeitos
Que maravilha! É a pura verdade, embora, a princípio nos pareça estranho.
Temos muito tempo para pensar sobre isso e enquadrar nesta situação algumas pessoas com quem convivemos (infelizmente!) e assim, saberemos melhor lidar com elas.
Muitas vezes a estupidez (que penso, podemos também entender como ignorância) de alguém que temos como amiga/o nos prejudica e nos afeta.
É interessante que em dado momento, conhecemos alguém pertencente ao nosso meio e como ponto de partida atribuímos a essa pessoa todas as qualidades positivas que queremos que ela tenha. Um dia, quando menos se espera, seu comportamento nos assusta e ela se revela com atitudes que nunca poderíamos imaginar, fosse capaz de ter. No entanto, diante de pensamentos como este de Claude Chabrol, fica mais fácil analisá-la e minimizar sua conduta diante de nós, porque, então compreendemos que a atitude grosseira, agressiva, ou outro valor malévolo que carrega, pertence a ela somente, é oriunda de sua estupidez, ou ignorância, nada tem a ver com o alvo do momento. Sim, porque quando você reconhece que foi vitima de um sentimento como esse por parte de pessoa que era tida como sua amiga não se engane, você é apenas mais um nessa historia. Sem limites, como diz o autor do pensamento, sua estupidez atinge ao outro, satisfazendo-a e servindo tal estimulo como alimento para essa sua qualidade terrível! Para uma pessoa que já cultiva a maldade, a estupidez se acentua e ela se regozija ao atingir a outrem, porque, sem dúvida, seu alvo é um alguém com qualidades que ela reconhece e sabe que nunca as terá! São desvios de conduta que vão, infelizmente, aperfeiçoando e acumulando sentimentos negativos, um após outro. Falando e escrevendo vamos clareando os pensamentos e vendo a gravidade do caso em concreto! Nesse caso quando alguém se reconhece assim, melhor é procurar ajuda, porque é preciso!
Aidinha
sábado, 3 de dezembro de 2011
Fé e Gratidão
Chamo de “qualidades” estes dois atributos, por serem sentimentos que o homem tem que cultivar, sem o quê, transforma sua vida num turbilhão de acontecimentos sem sentido e por isso mesmo, sem conseguir saber o quê se passa com ele.
Sua auto-estima está tão elevada, que ele acredita sempre, ser merecedor de todas as ajudas e favores do próximo, sem ficar lhe devendo nada!
Pensar sobre isso faz bem, é muito bom!
Hoje é comum ouvir-se falar muita coisa sobre o astral, mormente depois da publicação e intensa propaganda do livro e do filme “O Segredo”. Segundo muitos, no astral está a solução para tudo, basta você se harmonizar com ele. “O Segredo” ensina o que ele quer que você faça. O que você precisa fazer. Pois é, tanta busca, tanta procura. Porém os incrédulos e ingratos não procuram sua própria evolução.
A fé é algo que qualquer ser humano, por sorte, pode conseguir obter. Basta uma única vez estar em verdadeiros apuros e alguém lhe indicar um caminho certeiro para sair deles, que, conseguindo, preservará essa fé, daquele modo que lhe foi ensinado. É uma conquista feita em momento de dor, mas que lhe permite percebê-la (a fé) dentro de si.
A gratidão, porém, é mais difícil, porque ser grato implica em nunca esquecer o favor recebido, implica em humildade. Penso que já nascemos com essas sementes na alma, com esse dom. Certo é não o sufocarmos diante da cega auto-estima, que põe o ser humano diante, apenas de si mesmo, como o centro do mundo e o alvo (no seu modo de ver, merecedor, é claro!) de todos os favores da restante humanidade. Nela, ninguém é superior a ele definitivamente.
Assim, caminha pela vida, com a certeza de que não merece mais a sua amizade, a sua atenção, aquele que não se dedicou a ele. Como pode ignorá-lo? Ele só enxerga os seus problemas e acredita que o mundo todo deve correr para ajudá-lo. Apenas ele, no mundo, não está obrigado a ninguém, a tal ponto, que quando recebe favores de qualquer tamanho e de qualquer natureza, entende que o outro fez apenas o que era obrigação. Nunca mais se lembra, com um sentimento delicado como o da gratidão, de ter sido ajudado por alguém que, sem dúvida, merece da parte dele um tratamento sempre voltado para um laço indicativo de uma amizade, ou mesmo de um amor, cheios de respeito. Alguém que o respeitou e o socorreu, ou simplesmente o ajudou.
O ingrato está em permanente desarmonia com o astral, com as forças que regem o grande sistema. O importante diante dele é agradecer sempre por tudo o que temos todos os dias, todas as horas. Não importa a quem, nem como, mas devemos agradecer tudo o que recebemos porque só assim vamos conseguir mais força para vencer os obstáculos que encontrarmos.
Para além de tudo aqui colocado, ainda a questão da educação. Há coisas muitas vezes que não queremos fazer, no entanto o nosso grau de educação não nos permite o contrário. As boas maneiras e ao lado delas os gestos nobres, têm sempre lugar na nossa vida quotidiana. Deles, ainda, tiramos posteriormente o prazer da nossa atitude.
Não faz mal a ninguém ser bom, grato, generoso, educado para com seus semelhantes. Claro! Muitas vezes as pessoas não fazem o bem, porque já estão empedernidas e alheias ao sofrimento dos outros. Andam neste mundo sem perceber que ele tem os seus mistérios. Tem sim! Feito algo que causou dor, magoa, feriu outro ser, o causador que aguarde! A resposta virá. Aí estão os ditos populares a explicar essa coisa que muitos insistem em ignorar:
“aqui se faz, aqui se paga”
“quem com ferro fere, com ferro será ferido”
“não faças aos outros aquilo que não queres que te façam”.
Como esses provérbios, dezenas deles a nos alertar para o iminente perigo ao qual está exposto aquele que vacila diante das atitudes que deve tomar na vida, seguindo o caminho oposto àquele que determina o amor verdadeiro e que rege, sem dúvida o nosso planeta!
Sem esse amor de verdade ninguém chega a lugar nenhum, ninguém aqui, é nada!
Aidinha
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Sempre o amor!
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Viajando nos mapas do século XIX
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Saudades Saudáveis
domingo, 23 de janeiro de 2011
Os Encantos da Vida
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Sentir a vida
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Centenário de Nascimento
segunda-feira, 8 de março de 2010
Nada
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Nem só de pão vive o homem...nem a mulher!
Por que será que uma poesia, jamais é lida mil vezes em um programa de rádio, ou apresentada na TV? Assim acontece com uma crônica, um conto, etc., mas a música, esta se repete não só mil vezes, mas milhares de vezes. Hoje mesmo, neste espaço da noite em que estou aqui diante do computador, ouvi apenas Amália Rodrigues interpretando GAIVOTA e Michael Jackson cantando SMILE. Estou feliz e me encontro nessas melodias, como se estivesse aninhada no calor do carinho mais doce. Viajo! Nada mais perfeito sobre a face da terra que o pensamento inviolável do homem! Ouvindo, o dia inteiro as músicas que gosto, levo meu pensamento aonde quero! Saudade! Penso que a música se sobrepõe a tudo o que o homem concebe intelectualmente, por ser absolutamente universal, como a matemática. Servem, ambas, para todas as línguas e todos os povos. A música é sentir, é viver. Ela nos toca e nós a recebemos de acordo com as condições do nosso coração. Cada coração tem o seu compasso. Por essa razão, talvez, essas datas que comemoramos ao fim de cada ano provoquem em cada um, sentimentos tão diferentes. Nem todos se irmanam. Nessas datas, a saudade se aguça, as lembranças se avivam, a nossa sensibilidade está à flor da pele! Gosto delas, gosto de tudo que me emociona, gosto de me sentir viva. É difícil falar sobre esse emaranhado de sentimentos, pois poucos o compreendem... Para justificar essa afirmação, digo outra vez: cada coração tem o seu compasso. Não tenho ao meu redor, alguém tão romântico como aqui confesso ser. E eu me pergunto como viver sem ser romântica, sem sonhar, sem amar, sem acalentar ilusões? Na vida, na real, poucos param para ver uma pequenina flor, quase sempre de imensa beleza! Ver as cores, ricas, belas, ouvir com prazer o gargalhar de uma criança, rir com ela sem nem saber por que... Mas, não há tempo, ou, “tudo isso é bobagem. A vida não é isso”. Dizem. É. Concordo. Temos que batalhar a vida e para tanto devemos ser realistas. Mas, será que não há espaço para o sonho, para o amor? Em toda minha existência estive sempre mais apaixonada do que sã! Claro! Hoje a ciência diz que quem está apaixonado está doente. Então estou gravemente enferma. Já tive sonhos, tive amores, tive dores mil! Hoje sei que os sonhos são tudo o que de mais real possuo. Foram sempre a porta que tive para a liberdade. Dentro deles, não cabe a realidade, não há idade, não há espelhos que venham para me mostrar o estrago feito pelo tempo, não há amarras, nem criticas. Deles, não faz parte o trabalho, como todo e tanto que a vida me deu. Neles não há a luta de todos os dias e nunca estão ali os que me cerceiam e criticam. Sonhar é preciso, muito! Como é bom sonhar! E sonho acordada, muitas vezes! Os mais jovens talvez nem saibam do que estou falando, mas para tranquilizá-los posso lhes garantir que o sonho de ninguém faz mal aos outros, eles apenas fazem bem aos sonhadores. Se um dia você se sentir objeto do sonho de outrem, orgulhe-se disso, não fuja, não se culpe, não se assuste, o sonhador não passa nunca de um sonhador. Não leve tudo tão a sério se de repente você souber que se transformou num príncipe encantado (mesmo que você pareça um príncipe!). Você será apenas um príncipe (ou, uma princesa) virtual e em sua vida, jamais imaginou que pudesse abalar uma fortaleza aparentemente inatingível. Isso é razão para você tentar aprender mais um pouquinho sobre o sonhar e ser feliz sem amarras, sem que ninguém consiga impedi-lo de voar e depois lhe conceda o perdão por ter aberto suas asas, tão frágeis ainda. Viva criança! Viva e voe e sonhe, porque só na tolerância e na cumplicidade dos personagens dos nossos sonhos, nos encontramos realmente. O sonho tem o condão de nos fazer acordar sorrindo, felizes, afinal, participam dos nossos sonhos os nossos verdadeiros amores.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
2010 está chegando
Alexandre Kavacs e família
Angel
ConDuarte
Cristina Montenegro
Esther
Felipe
Fernanda
Gaspar de Jesus
Geórgia
James p.
João Meneres
Lilia
Luiz Rogério de Carvalho
Marie
Mirian Mondon
Myra landau
Pedro Luso
Raquel Crusoé
Ricardo Blauth
Rosa (rosac)
Silvana Gondim
Taís Luso de Carvalho
Hoje, quando nos despedimos de mais um ano,
peço licença, uma vez ausente há tanto tempo,
para falar especialmente a vocês e vos agradecer,
meus amigos queridos, delicados, compreensivos
e por que não dizer, educados mesmo!
Agradecer aos que me acompanharam, e aos que
em seus comentários deixaram-me tantas
palavras preciosas de incentivo.
2009 foi para mim um ano especial dentre
todos os que vivi. E continua sendo. Até seus
últimos instantes, me faz feliz, dona da
minha alegria de sempre, capaz até de sonhar
acordada. Meus planos para minha vida,
estão elaborados.
2010 que trate de passar um pouco mais
lentamente, tenho muito o que fazer!
Por outro lado, foi o ano que mais me ensinou
a conhecer as pessoas.
Entender um bocadinho mais a grandiosidade humana
a par das suas misérias.
Nem todas as pessoas têm a mesma sorte
que eu, mas comigo, toda a vida foi assim.
O astral me aproxima sempre do que
há de melhor. Agradeço a ele por isso.
Então agora, com meu pensamento
elevado para a Inteligência que
rege o universo, peço que nos
cubra com a proteção que precisamos
para o novo ano e mais e que venha acompanhada
de todas as maravilhas que a vida nos
oferece neste nosso planeta.
Para cada um de vocês, um abraço
muito carinhoso e muitos beijos da
Aidinha
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Muito de Mim – Parte IV –Final
Já serão 36 anos, agora, neste dezembro vindouro, que tudo isto aconteceu na minha vida, porém ainda é bem viva em mim a lembrança do meu pai. Ele amava a vida intensamente, era inteligente, bem humorado, carinhoso, engraçado, sabia como esconder suas frustrações de forma bem diferente! Teve três filhos como já mencionei, eu fui a única mulher. Os dois filhos homens preciso dizer, que em matéria de posicionamento diante da vida e das outras pessoas, eram quase indiferentes. Cada um deles ao seu modo cuidou de si, de sua família e nada mais. Eram o oposto do papai.
Assim que lhe escrevi a primeira carta, tive o cuidado de lhe contar como meu irmão mais velho, o Zezinho, lutava para sustentar sua família. Era grande a batalha, porque tinha três meninas e um rapaz, todos com pouca diferença de idade. Esse filho do meu irmão, o Glauco, é o neto com quem o papai se encontrou no Rio de Janeiro e que o trouxe até a nossa casa. Nessa ausência do papai, só nós dois, os primeiros é que nos conhecíamos. O outro, o José Carlos, nascido em Barcelona e residente lá, chegava a ser uma dúvida para nós todos. Aqui, o papai nos contou sobre ele. Certo é que fomos três filhos únicos de nossas mães, a única presença que tivemos, suprindo a falta do pai, que tinha outros compromissos com a vida e com o mundo.
Muitas vezes me pergunto até onde éramos realmente importantes para ele. Seu ideal político tão arraigado em sua alma, fez com que vivesse dedicado às pessoas, como se fosse o salvador da humanidade. No entanto, aceitou viver sem seus filhos, a bem da verdade, sem o Zezinho e sem mim. Conviveu normalmente com o José Carlos. Outra pergunta que faço é se alguma vez ele parou um só momento com seus pensamentos voltados para dentro de si, mergulhado em sua própria vida e percebeu o dano irreparável que nos causou sua falta. Eu digo que tudo passou, já foi, paciência, mas a pergunta não se cala!
Perdemos para a política e ficou bem claro que para ele, ela foi tudo!
Na minha primeira carta, então, contei-lhe a situação difícil do Zezinho e ele, imediatamente enviou-lhe um cheque de US $ 1.000,00 para cobrir alguma necessidade mais premente, penso que com a intenção, agora, de ajudá-lo no futuro a sair daquela vida de contínuos apertos, como só poderia ser a de um humilde funcionário da prefeitura. Ele sabia que viria nos ver um dia, em breve e teria essa oportunidade.
De fato, chegou aqui era Natal, ficamos todos juntos. Meu irmão não pode vir passar conosco essa data, porque a despesa seria grande para vir com toda a família e não tinha mesmo onde se hospedar. O papai, por sua vez não fez mais que falar com suas irmãs, irmãos e cunhados por telefone e deixou o encontro com eles para depois das festas.
Eu agora, aos 40 anos, tinha meu pai ao meu lado, mas cheguei aí, sem nenhum preparo, nem maturidade política para conversar com ele. Precisaria ter perscrutado muito mais a sua alma, seu coração, seu intelecto, e tentado conseguir entender objetivamente o seu pensamento. Saber a
verdadeira política que ele aplicava em sua vida, e o que nela o prendia e o fascinava tanto. Saber mais da história que todos vivemos neste nosso Brasil e da qual ele foi uma sofrida personagem...
Tenho pena de não o ter explorado e entendido mais nesse sentido.
Meu interesse era inteiramente voltado para a pessoa dele. Interessava-me saber seu comportamento nesse passado quando esteve tão distante e ausente e mesmo do seu tempo de Brasil, antes de ir embora. Saber quem foi ele, como já mencionei acima.
Falávamos de tudo, mas quando o assunto era a política, o comunismo, a ditadura Vargas, como aconteceu uma vez, ele começou a me contar das torturas que sofrera no DOPS. Quando me contou das suas 20 unhas arrancadas em uma única sessão, uma a uma com alicate, não aguentei e sentimos que o clima causava, ainda, o mesmo terror, a mesma repulsa, agravado, pela ditadura que estávamos vivendo então. Evitamos depois levar nossos papos por aí. Eu ainda era muito fraca para esse enfrentamento.
Entre os endereços que trouxe de alguns companheiros, trouxe o de um daqui de São Paulo, na Avenida Rebouças. Ambos foram ao mesmo tempo, presidiários do Maria Zélia e isso os uniu para sempre.
A este, fez algumas visitas, sempre de noite, e levava com ele o Tarcísio, meu filho mais velho. No momento eu não aquilatava bem o perigo e os riscos que corriam. Por isso mesmo, nesses dias de visitar seu amigo, cheguei a manifestar minha vontade de ir com ele para conhecê-lo. Ele não me dizia que não, mas rodeava, justificava e afastava essa possibilidade, elegendo apenas a companhia do Tarcísio. Hoje penso que o escolhia, tentando fazer do neto, um deles. Tenho razão para suspeitar. Ele tentou comigo...
Eu tinha dois filhos adolescentes e um ainda com 9 anos, que me davam muito trabalho e com eles gastava bom tempo. Assim, dia após dia, a luta era interminável. Sempre havia muito que fazer, geralmente contra o relógio. O papai logo percebeu esse fato e comentou ter se surpreendido com a vida dura da mulher aqui no Brasil. No entanto, nem por isso, deixou de me encostar na parede, tentando me aliciar. Eu preparava o almoço, estava a todo o momento na pia e ele, com muito carinho, aproximou-se, passou seu braço em torno dos meus ombros e com sua voz calma, grave, tom solene, disse:
- ó filha, por que é que não te filias ao partido?
Eu diante daquela atitude pensava estar recebendo um carinho, apenas olhei-o, calada. Explicou: já fazes tanta coisa, tens tanto trabalho. No partido é que estarias bem. És talhada pra isso! Aí reagi. Papai, você não me peça tal coisa! Se todas as mães educassem seus filhos do mesmo modo como eduquei e educo os meus, o mundo seria outro e até esse seu partido seria inútil. Foi troca rápida de palavras, fiquei irritada e ele logo mudou de assunto. Esta foi a única vez que tentou levar-me a segui-lo na política, mas não deixou de fazê-lo. Ele nunca imaginou quanto eu a odiava e ao tal partido que o arrebatara de mim.
Ele veio para ficar por uns vinte, ou vinte e cinco dias, apenas. Sequer imaginava o que ia encontrar por aqui. Tantas mudanças neste Brasil que ele havia deixado. Tudo diferente. A nossa própria vida completamente diversa daquela que ele conheceu. Afinal, ele vinha nos visitar após uma longa ausência de trinta e cinco anos! Tínhamos vivido a era Juscelino que nos trouxe a nossa revolução industrial trazendo-nos com ela uma vida como ele jamais imaginou encontrar por aqui. Encantava-se com algumas coisas, outras detestava, mas o certo é que se deixou ficar, porque os apelos eram muitos e de todos. Claro, queriam tê-lo ao menos um pouquinho com eles.
Ausentou-se daqui por 5 dias, quando foi, então, visitar seu filho mais velho no interior. Essa visita que a todos causou expectativas, de fato veio a nos surpreender, mas ao contrário do que esperávamos.
Por lá, o papai apenas analisou atento ao seu redor e com meu irmão falou muito da política que vivíamos.
Quando retornou, perguntei como ele havia visto a situação do filho. A resposta, para mim, foi surpreendente!
– Teu irmão está muito bem.
Não entendi, sempre imaginei o contrário. Como papai?
Então ele contou como foram os dias que passaram juntos. Conversaram muito sobre tudo, inclusive sobre política, e tentou fazer com que o filho entendesse os males da revolução que vivíamos e ao que estávamos sendo submetidos pela força. Qual nada!
- Teu irmão está plenamente satisfeito com o regime e com seus reflexos em sua vida. Mansamente discordaram em tudo.
- Uma pessoa tão satisfeita com o mau governo que tem, não precisa de ajuda, pois nem quer avaliar o que seria sua vida em condições políticas diferentes. Tudo esta ótimo para ele! E pronto.
E está mesmo, pois com tudo isso, teu irmão conseguiu ter uma casa, não importa que a esteja fazendo aos poucos e modesta, como dá pra ser feita. Está tudo bem com ele. Encontrei-o um homem realizado. Não vou atrapalhar nada, interferindo na sua vida.
Surpresa, calei-me um pouco desapontada. Já tinha feito o que achei que me competia.
Muito interessante essa sua atitude e decisão, pautada nas suas convicções, em nada mais. E ressalte-se: válidas só para ele.
Nessa ocasião, nós morávamos em uma casa que meu marido havia comprado já havia dez anos. No final de 1973, estava prevista nossa mudança para o ano seguinte. Ìamos para um apartamento, ainda em construção, que ele também havia acabado de comprar. Agora eu acompanhava mais de perto o ritmo da obra, porque assim que houvesse possibilidade de elevador, queria levá-lo para conhecer nossa nova casa. Não foi possível subirmos, mas ele esteve por lá e viu tudo como seria.
Nesse ponto, achou que tendo eu o novo imóvel, poderia bem dar a casa para o meu irmão. Achei que me fez uma “proposta indecente”. Confesso que me assustei, mas pela grandeza do absurdo, achei melhor fazer de conta que ele estava brincando. E é verdade, quando me lembro disso, acredito mesmo que ele estivesse só me provocando, porque se o seu ideal o autorizava a não ajudar seu filho, porque eu, meia irmã, quase estranha, deveria presenteá-lo com o fruto do trabalho do meu marido?
José era sete anos mais velho que eu.
Foi muito difícil para minha mãe no início aceitá-lo, porque as circunstâncias em que ela tomou conhecimento da existência desse menino foram inusitadas. Alguém, no dia do seu casamento, ela vestida de noiva, contou-lhe que o noivo tinha um filho, então com essa idade. Fácil imaginar o choque que ela tomou.
Foi devagar, mas ela superou o fato, tanto que mais tarde, quando das visitas ao presídio, por ser permitida apenas a entrada da esposa acompanhada de um filho, um só, ela levava aos domingos um de nós e nas quintas feiras o outro. Minha avó paterna ia com ele e esperava minha mãe na porta do presídio, onde ela recebia o menino na chegada e ali mesmo o devolvia na saída para a avó que era chamada “a vovó do bosque”, porque morava no Bosque da Saúde.
Nosso convívio começou em 1948. Foi ele quem me procurou. Sabia que tinha uma irmã e que minha mãe era casada com o nosso pai no civil e no religioso. Diante disso, desconfiou sempre, que o papai o havia registrado, mas tinha certeza que não lhe dera seu nome verdadeiro. Sua primeira providencia foi buscar nos cartórios a minha certidão de nascimento. Encontrou-a e lá estava a prova da sua suspeita. Ele era José Affonso, o pai Cypriano Affonso. A irmã não, Aida Vera Cruz, filha de Cypriano da Cruz.
Judiação! Só ele e eu sabemos o que ele sentiu naquela hora! O sentimento é de rejeição, de engodo, de pouco caso. De traição mesmo. Nenhum filho merece uma dessas. Tudo bem, ele foi criado ao Deus dará e assim soube sempre se defender. Pôs-se a imaginar como sair dessa situação, sem documentos do pai, sem nada, nenhum subsidio que lhe facilitasse o objetivo. Era o momento de servir ao exercito e aí ele viu uma possibilidade. Inscrever-se como José da Cruz Affonso. Fez isso e deu certo. Tão simples! Viva o Brasil!!! José Cruz, foi o nome como ficou conhecido na cidade e seu nome até o fim da vida.
Já estava com 23 anos quando me encontrou. Desde que perdeu sua mãe e foi abandonado também pela família paterna, antes mesmo dos 18 anos, começou a me procurar. Soube o colégio onde eu era interna, no interior, mudou-se para lá, era locutor da rádio local e se apresentava apenas como José Cruz. Minha mãe, todas as vezes que o ouvia, dizia: Aidinha, é teu irmão. Eu ficava apreensiva, curiosa, mas pensava que poderia ser só uma coincidência. Depois a confirmação. O que parecia sempre uma brincadeira era verdade mesmo.
Um dia ele se encheu de coragem e foi ao colégio me visitar. Nem preciso dizer o problema que me causou diante das freiras que sabiam que eu era filha única. A Madre deixou-o esperando por bom tempo, enquanto me fazia um interrogatório para saber a verdade. Concluiu a favor dele e acreditou ser mesmo meu irmão. Também, naquele impasse, contei tudo o que eu sabia tentando convencê-la da verdade.
Esse foi um encontro difícil para nós dois. Ele, comigo só queria discutir religião. Era Batista desde que nasceu. Eu, Católica desde sempre. O
resultado disso é que muitas vezes evitei sua companhia, tentando evitar assim um possível desentendimento.
Eu tentava tornar tudo mais ameno entre nós, mas a vida para ele foi madrasta e muitos fatos o marcaram para sempre, como por exemplo, a questão do nome. Nesse momento ele era um adolescente só no mundo. Não contava com o apoio de ninguém.
Demorou um pouco para me contar sobre esse episódio, mas quando se sentiu mais seguro a meu respeito, contou-me como se tivesse conseguido uma vitória contra tudo e contra todos. Conversávamos e ele muito feliz com o resultado da falcatrua que fizera no exercito. Nessas alturas, eu comecei a rir, rir muito e ele imaginou que a graça que eu achava, estava exatamente nessa volta que ele conseguiu dar no comando dos melicos. Filiação garantida, riu também e me perguntou: - não foi bem feita essa?
- Não meu irmão, não foi. Respondi.
O que você não sabe é que o papai casou-se com minha mãe com um nome suposto. Eu é que não tenho o nome dele!... Foi um momento de tanto impasse que nem sei descrever. Eu rindo, ele chocado. Não sei o que pensou, nunca mais tocamos no assunto para valer, eu é que de vez em quando tirava dele um sarro por causa dessa história. - Está vendo? Quer ter tudo igual a mim, olha aí, arranjou um nome falso!
Essa foi uma questão que discuti com meu pai na primeira oportunidade que tive e disse-lhe de chofre – como papai, o senhor teve coragem de não me dar seu nome? Ele tranquilo como sempre explicou: - não filha quem te disse isso? Cruz é o meu nome “também”.
Em meu coração não aceitei bem essa resposta. Não quis aprofundar o assunto, mas também nunca lhe contei que quando do meu casamento, fiz a mesma trapalhada (lícita, porém!), como meu irmão e tirei o “Cruz” que me pesava na alma.
O tempo me trouxe o esclarecimento e achei graça, outra vez. Consegui a certidão de batismo dele e me parece que lá, na época tinha o mesmo valor que a de nascimento. “Affonso” vem de meu avô mesmo, é o verdadeiro nome de família que o papai deu ao Zezinho, mas na hora do batismo, os padres sempre sugerem e carregam um nome de santo, ou por aí, para que o neo batizando sai da Igreja bem protegido. Ao meu pai deram “Cruz”, a própria cruz do Senhor como nome. Portanto, eu não poderia telo como sobrenome, mas naquela ocasião, meu pai já andava comprometido com a polícia do Getúlio e tudo valia para despistar sua presença aqui. Compreendi muito tarde essa atitude dele. Ele me garantiu que era o nome dele e era mesmo! Nome de família é que não era.
Eu costumava dizer - sou filha de ninguém, não tenho nome. Por isso foi fácil para mim entender o que sentiu o meu irmão.
Nessa mesma certidão de batismo do papai, consta num acento à margem que ele e a Carmen, mãe do meu irmão caçula José Carlos, casaram-se. Portanto, nesse momento, ele era também bígamo!
Enfim, chegou o dia de irmos para Vila Velha.
Dessa viagem, já relatei as peripécias minhas e de José Rebelo!
Meu pai, sozinho comigo, nunca falou uma só palavra contra minha mãe, ou contra quem quer que seja da família, ou dos amigos. Naquele momento, no meu modo de ver, tinha razões para isso, mas era uma pessoa com grande capacidade de perdoar.
Quando estive a primeira vez na casa de minha tia Silvana, me deparei com uma pessoa amarga e rancorosa. Exatamente oposta ao irmão. Parecia que toda odisséia vivida por ele, tinha sido também vivida por ela. Verdade que teve como companheiro um do partido, como não poderia deixar de ser, amigo íntimo do meu pai. Estiveram presos juntos no Maria Zélia. Era Krebs o seu nome e meu pai e ele, usavam aquela barba, marca característica dos comunistas, revolucionários. A do papai era muito bonita, chegava mesmo a ser de um preto azulado o que lhe rendeu um apelido. Eu, pequena, era muito esperta, ativa, nada me escapava. Meu pai, moreno (lindo!), lá era chamado de “Barba Azul”. O Krebs era ruivo e eu prontamente o chamei de “Barba Vermelha. Ficaram, então, lá dentro, sendo assim chamados, o Barba Azul e o Barba Vermelha.
Minha tia e minha avó, jamais permitiram que uma carta da mamãe para o meu pai, ou vice e versa, não fosse encaminha através delas. Minha mãe nunca soube o endereço do marido e ele não sabia o dela. Tudo sob o crivo das duas que se faziam senhoras absolutas da situação. Por isso o Zezinho, pela vida, se perdeu do papai!
Minha tia, contou-me então, que tudo o que meu pai sofreu e sofria, ainda, era por conta de ter sido delatado por minha mãe.
Isso me incomodou a ponto de nem conseguir dormir. Andava sem entender mais nada, porque eu sabia que minha mãe era apaixonada por ele.
Como ter certeza? Não tinha jeito. Dar crédito à minha tia? Por outro lado, não era totalmente impossível que isso fosse verdade, pelo que eu conhecia das nossas vidas. O reflexo da vida dele na nossa, era um verdadeiro desastre. Chegava ao ponto de minha mãe perder diversos empregos, quando descobriam que o marido era comunista e estava preso. A fome pintou, mas amigos também não faltaram para minimizar isso e minha avó materna, sempre conosco, trabalhava duro ao lado da mamãe, para juntas vencerem esse pedaço doloroso da nossa vida. Trabalhava muito, madrugadas a fio e muitas vezes o dinheiro não vinha. Eu tinha apenas quatro meses e meio, minha mãe, não tinha leite, nem dinheiro para comprá-lo todos os dias. Então a vovó levava batata para os meninos da padaria, que ficava do outro lado do muro da nossa casa e pedia para eles assarem nas brasas. Depois, amassada com um fio de azeite, dava para mim. Sou “batateira” até hoje! Era assim que me alimentavam.
A magreza da mamãe impressionava e o médico descobriu que estava com uma degeneração óssea por falta de alimentação e tanto trabalho na posição forçada que aos poucos lhe deformava o corpo.
Minha mãe retirava o serviço todas as segundas feiras na Rua Oriente, na Casa Lenci e entregava-o nas sextas feiras. Eram dois jogos de cama, de casal por semana, inteiramente bordados à máquina, na Singer simples. Ele não deixava que ela, ou a vovó fossem entregar o serviço. Ia ele e o dinheiro, jamais chegava às mãos dela. E ela não podia e nem se atrevia a enfrentá-lo para reenvindicar- lhe o dinheiro. Morria de medo dele.
Eu não queria falar com a mamãe sobre esse fato tão sério, porque tudo o que eu fiz para chegar ao meu pai a para ele chegar aqui, fazia escondido dela, em virtude dessa acusação feita pela tia Silvana. Na dúvida, eu tinha medo...
Quando ele me prometeu vir ao Brasil, achei que era hora de falar com ela, seriamente! Em sendo tudo verdade e se ela agora se sentisse ameaçada com sua presença, correria ele o risco da nossa ditadura o apanhar e o de ela própria entregá-lo outra vez. Fiquei apavorada. Decidi num domingo, quando ela vinha nos visitar: - vou falar!
Enquanto eu fazia o almoço, ela sentadinha ali a ver-me cozinhar, nunca esperava ouvir de mim tudo que lhe falei.
Abri o jogo, sem nenhum prólogo.
- Achei meu pai.
Ela não esperava, levou um susto.
- Como? O que disseste Aidinha?
- Disse que encontrei meu pai. Já o procuro há algum tempo.
Daí por diante falei-lhe tudo o que guardava no coração e queria sair pela boca!
Falei que nos correspondíamos e que ela jamais saberia, por mim, onde ele estava. Respondia sempre me acalmando e dizendo que sim a tudo o que eu propunha e programava.
Por fim disse-lhe: - durante quarenta anos estive com a senhora. Depois que me casei, minha casa esteve aberta para a senhora sempre. Agora, meu pai vem no fim do ano nos visitar, fica apenas uns dias e eu não sei como ele vem, nem por onde. Enquanto ele estiver aqui, a senhora, por favor, não apareça e digo mais: ele pisando no Brasil, a senhora reze para que nada de mal lhe aconteça, porque se isso acontecer, nem vou apurar nada, eu mato a senhora!
Acredite mamãe e não faça nenhuma insanidade!
Ela ficou assustadíssima, disse não me entender e não ter nenhum interesse em prejudicá-lo, ou a mim. Que eu ficasse tranquila. Já falava meio ardida, enciumada talvez!
Com a notícia, naquele domingo tudo foi diferente. Ela se manteve um pouco mais quieta que de costume.
Pois bem. Ninguém acredita. Passadas as festas de Natal, ele me perguntou: - e a tua mãe? Por que não aparece? Expliquei-lhe como eu a tinha afastado “cautelarmente” e porque. Ele meigo: filha, não é nada disso. Ninguém pode falar nada. A situação naquela altura foi muito difícil para todos nós e as reações todas de cada um, têm sua explicação. Diz-me uma coisa, ela tem telefone? Ao lhe responder afirmativamente, levantou-se, pediu-me o número e anunciou: vou já ligar para a minha mulher. Intimou-a a comparecer o mais depressa possível, desde que naquele mesmo dia. Ela veio. Simples assim...
Dentro de mim naquele instante, foi como se o temporal tivesse amainado. Foi muito engraçado, porque eu fiz um carnaval e agora para os dois era festa. E o que me restava fazer? Desanuviada a nossa relação, pela atitude dele, tudo ficou como antes. Ele zangado achou que a irmã, a tia Silvana, melhor teria feito se ficasse calada. Jamais deveria me falar tal coisa.
Minha tia, ainda agora jogava sujo, pensei. Porém era muito bom saber que ela não disse a verdade.
Enquanto ele esteve no Brasil e em minha casa, não dispensava a presença da mulher dele, por nada, ficavam os dois sentados no sofá, de mãos dadas, conversando baixinho e piriquitando à vontade. Era engraçado e bom de se ver.
Tantas peripécias, nomes trocados, documentos literalmente comidos por ele durante o trajeto até o DOPS, tanto medo, tanta ameaça e por fim ele acabou preso mesmo. Eu era muito pequena, tinha menos de dois anos e dormia no berço no quarto deles, quando o prenderam para averiguação.
Cercaram todo o quarteirão. A chegada da policia, da forma como foi, acordou toda a vizinhança. Eu acordei também e assisti aquele horror. Gritos da polícia para que ele se entregasse, tiros e tudo o que fazia parte da ação. Ele andando pela casa, armado, minha mãe desesperada, a vovó no meio daquilo tudo e ninguém se deu conta que eu estava de pé no berço, olhos arregalados, observando tudo. Por fim, entregou-se. Quando o levaram, minha mãe se lembrou de mim, a casa já trancada, o medo ainda em nós, ela tirou-me do berço, contou-me que meu coração parecia um trem sem freios. Apenas perguntei quando o papai voltava. Ela me tranquilizou e adormeci. No dia seguinte, fomos na casa da minha madrinha, minha mãe queria contar-lhe o que acontecera e longe de mim comentou que estava com muito medo, porque quando as pessoas perguntassem na minha frente,
por que ele havia sido preso, ela não imaginava o que eu poderia responder. Pensava que eu fosse logo dar com a língua nos dentes, falar de tiros de comunismo e lá ia de embrulho o seu emprego e o nosso ganha pão. Minha madrinha velha foi mais prática. Foi conferir. Foram ao quintal, onde eu brincava e minha madrinha me fez a temida pergunta: - Aidinha, porque o papai foi preso? Prontamente respondi:
- Porque ele dormiu de cuecas.
Eu nunca o tinha visto antes, em trajes menores.
Minha mãe respirou aliviada. Ficou tudo bem.
Eu sempre estava no meio da encrenca para ajudar, ou atrapalhar.
Fomos no começo de 1934 morar em Lins. Lá estavam os primos da mamãe, o José Maria Terrível e o Manuel Terrível. Depois, aos 03 de dezembro de 1935, seis dias após a Intentona Comunista, o papai foi preso e de lá veio escoltado para São Paulo, diretamente para o Gabinete de Investigações e de lá para o Maria Zélia. Esteve preso, sempre em condições de preso político, também no Presídio Paraíso, às vezes ia para o Gabinete de Investigações, ou para o DOPSS e por fim, antes de sua extradição foi para a Cadeia Pública na Avenida Tiradentes. A luta da família dele aqui fora era para encontrar quem o libertasse. Assim, minha tia Silvana, veio a nossa casa e combinou com a mamãe que iríamos aos escritórios de uma pessoa muito influente, com força suficiente para atender esse nosso pedido. Conversaram e ela disse à mamãe que era bom que me levassem, para reforçar diante da tal autoridade que se tratava de uma pessoa responsável, trabalhador, pai de família por quem elas estavam ali intercedendo.
No dia combinado fomos. A mamãe sempre me vestiu com muito capricho, fazia para mim os vestidos mais lindos! Eu era bem magrinha, comprida. Sempre me comprou os sapatinhos “Andar Certo”, finos que eu usava com as meias de seda, soquete, cor da pele, e as infalíveis luvas brancas com as quais, ao seu menor cochilo, eu polia o banco dos bondes a minha frente, escorregando com as mãos contornando o seu encosto.
Toda arrumadinha, fomos. O gabinete desse senhor era muito luxuoso e eu sentada, comportadíssima, sentindo a solenidade do momento, apenas apreciava tudo à minha volta. Na hora em que ele entrou na sala, eu olhava curiosa, pescoço curvado para trás, os arremates do teto em barras de gesso largas, douradas que compunham com muito bom gosto o ambiente.
Ele foi logo dirigindo-se a mim e me cumprimentado jovialmente.
Que menina bonita! Você está gostando da minha casa?
Naturalmente respondi: - estou sim, e tão linda! Ele me pergunta: - e a sua também não é assim? Eu ri marota e disse-lhe: - não senhor. O teto da minha casa não é de ouro, é o soalho da D. Rosalina. Morávamos num porão habitável. Ele desconcertado, sem esperar uma resposta que tomou a todos de surpresa, deu logo continuidade ao encontro, mas a todo o momento dirigia-se a mim com muito carinho. Com tudo isso e muitas vezes muito mais, nada abriu as portas do presídio para o papai.
Meu pai, ao retornar ao Brasil, pensou encontrar no Zezinho um filho politizado, ativo, engajado, alguém como ele foi e ainda era. Seu caçula não queria nada e aqui, constatou que o primogênito também era descompromissado com qualquer questão política. Em mim, enfim, ele conseguiu enxergar a garra, a solidariedade, o pensamento rápido, a combatividade. Todas as vezes que vinha pra cima de mim com seu discurso político, eu o contestava e não permitia que ele se dissesse o dono da verdade. Ninguém ousava contrariá-lo, mas eu sim. Uma vez (isto foi em Vila Velha), acusando-me e a nós daqui decretou: “vocês são todos uns burgueses de m.....”. Por que ele disse isso? Eu o calei. Ele muito serio olhando até assustado para mim, saiu pisando duro parecia estar muito bravo. Só que o pessoal todo da casa, depois veio me contar que quando ele se levantou e foi lá pra dentro saindo de perto de mim, foi rir à beça! Até comentou como era bom desacatar a sua filha e vê-la reagir. Achou melhor parar por ali, porque eu tinha razão de rebater o que ele dizia, mas ele nunca esperava que eu reagisse daquele jeito, no entanto era isso que ele esperava dos filhos homens e não teve.
Ele gostaria muito e esperava que eu nascesse homem também. Ele dizia a minha mãe que seria um menino e ia se chamar Vladmir Lenin. Nem preciso dizer qual não foi o alivio que ela teve ao saber que eu era uma menina!
Apesar de tudo, tenho pena de nunca ter conseguido partilhar com ele esse ideal, apenas por amá-lo tanto. Ele esteve nesse barco sempre só com relação à família. Só fico feliz a esse respeito, porque a mamãe sempre contava que nunca morreu do coração na saída das visitas que fazia a ele no presídio comigo, nem sabia por que. Quando se aproximava a hora da despedida, ele muitas vezes, nas costas do sentinela, pegava um calhamaço de papeis e enfiava dentro da minha calçinha, presos no elástico da cintura e eu saia toda empavonada, olhando para os guardas. Minha mãe suava frio, ficava pálida, tremia como uma vara verde! Pobre coitada! Não era para menos. O pavor que alguém nos pegasse. Nunca aconteceu, graças a Deus. Então por esse motivo, eu tenho um prazer enorme de saber que trabalhava para o partido e para ele. Depois não sei que destino tomavam esses manuscritos, mas sem dúvida, chegavam aonde ele havia determinado.
No dia 24 de dezembro de 1973, ao brindarmos, ele com sua taça erguida prometeu que em 1975, teríamos outra vez um Natal todos juntos. Ele voltaria.
Sua vinda até a hora de ele ir embora, me pareceu sempre um sonho e eu tinha medo de acordar. Enquanto ele esteve aqui, convivemos, na minha opinião, como deveria ser. Me rendi a ele totalmente, soube amá-lo, respeitá-lo, briguei com ele quando achei que era preciso, dei-lhe o meu carinho e a minha atenção sem medidas. Vivemos esses dias como se tivéssemos vivido sem nunca ter havido entre nós a separação e como se esse convívio fosse perdurar, ainda, longos anos.
Ele decidiu sua partida para o dia 24 de abril de 1974. Fomos todos, uma turma grande ao Aeroporto e seu embarque foi do modo como conhecemos. Quando veio o ônibus pegar os passageiros, ele ainda se enroscava recebendo mais um beijo e mais um. Entrou no ônibus, foi o último passageiro. Sua imagem se congelou na minha memória. Uma mínima maleta de mão, um sobretudo dobrado no braço para desembarcar e enfrentar o frio que fazia em Barcelona, acenando par nós até desaparecer do alcance de nossas vistas. Foi embora e de manhã chegou a Barcelona onde o esperava a sua outra mulher, mãe do José Carlos. Primeira notícia no aeroporto: ACONTECEU A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS EM PORTUGAL. SALAZAR FOI DEPOSTO.
Este homem ficou louco! Durante uma semana falou dia e noite com Portugal, com os amigos que deixara há tantos anos. Nesse ponto a Carmen achou que era melhor ele não voltar para a África sem ir a Portugal. Ele não rejeitou a idéia e foi para lá, onde ficou mais uma semana. Eram reuniões, encontros dia e noite, entrevistas para rádios e TV´s, tudo que ele nunca esperava acontecer na sua vida. Foi para Monróvia e lá imediatamente começou a escrever outro livro.
Ele recebeu carta minha poucos dias depois de estar na Monróvia, mas demorou a responder. Ao chegar sua carta as minhas mãos, porém, não reconheci nela o pai que a pouco havia partido.
Era apenas um guerreiro.
Já estavam em segundo plano, esmaecidas como antes do nosso reencontro, as lembranças que levara de nós todos. Esqueceu-se de tudo num instante, para daí em diante, respirar e viver outra vez, apenas a política. Só ela dominava sua mente e seus atos. Encantava-o seu Portugal livre de Salazar para sempre. Queria falar, pregar, convencer e agora podia fazer isso!
Enfim, era um homem livre.
Penso que para o Brasil, e para bem poucos países, permaneciam restrições que impedissem sua entrada. O resto do mundo lhe pertencia.
A 20 de junho, no entanto, nem dois meses depois de nos deixar, seu coração não resistiu a tanta felicidade e tanta alegria que parou de bater.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Muito de Mim – Parte III
Muito de Mim – Parte III
Esta história, tento abreviar, sem que fiquem para trás alguns de seus detalhes marcantes.
Agora que a perda do avião já foi explicada, vou mais à vontade falar dos fatos daqueles poucos, mas abençoados dias que tive meu pai comigo.
Ele não chegava para as encomendas, todos queriam um papo com ele. Ainda bem que falar era o seu forte. Passavam os dias e as horas e estava sempre alguém a sua volta, a ouvir, a perguntar, ou a recordar com ele alguns fatos, a final vivíamos agora uma vida de verdade, nela não cabia mais a ficção.
Esta foto foi tirada em Vila Velha - Vitória, onde passamos as férias com ele. Ali tivemos muito tempo para conversar, lembrando, recordando, discutindo. Só pensava em política,em reformas, dizia que o mundo ainda ia ver como seria duro quando os árabes do petrólio resolvessem dar as cartas.
Ele, um homem alegre, fazia sempre parecer que estávamos em festa quando estávamos todos juntos. Tinha muito o que contar, o que sugerir, o que criticar, ele era fogo!
Do Brasil, observei, guardou sempre lembranças muito boas, gostava muito daqui.
Em contra partida, sua vida pelo mundo, deve ter sido muito difícil, pois foi na maior parte do tempo, um fugitivo de sistemas que impunham o silencio que a duras penas era mantido.
Onde atualmente morava, tinha um Hotel, um restaurante e uma lanchonete que formavam um conjunto comercial único no país. Não pode comprar nada, mas conseguiu uma concessão para explorar o seu comércio ali, por noventa anos.
Enfrentou costumes completamente estranhos, o que não o impediu de, a seu modo, informar e influenciar algumas cabecinhas.
Lá, além do isolamento, bem menos de 2% de brancos compunham a população e por certo, sempre oriundos da nossa civilização ocidental.
Os nativos não se aproximavam com facilidade, havia muitos obstáculos para que confiassem em alguém de fora. Mas, meu pai, mestre em comunicação (formado por seu DNA e sua ideologia), fez-se amigo de toda gente.
Socorria a todos em qualquer circunstancia, e com o tempo tornou-se uma pessoa querida. O tratavam pelo apelido de “Old Man”, porque a bem da verdade, nunca seu nome verdadeiro foi conhecido naquele país, onde as suas correspondências tinham que ir destinadas, apenas a “José Carlos”.
Ele não gostava de revelar muita coisa sobre o povo, nem sobre os costumes com os quais agora precisava conviver. Tinha receio e se o assunto viesse à tona na rua, falava baixinho com medo de ser ouvido. O país era e deve ser ainda, diferente de todos os outros do mundo. Preservando sua vida, se adaptou tão bem ali, que se tornou amigo íntimo do rei.
O regime de governo era o reinado e pelo que sei, conseguido sempre à força.
Sabendo o rei algumas coisas interessantes sobre aquele estrangeiro e do seu convívio pacífico e dedicado para com seus súditos, quis conhecê-lo. Ficaram grandes amigos. Foi tanta a confiança do rei na pessoa dele, que enquanto meu pai esteve por lá, era chamado ao palácio, para ajudar o rei em todas as situações que envolviam qualquer questão diplomática. Do mesmo modo, como quando se relacionavam com a Cruz Vermelha e nessas emergências, vinha um carro oficial apanhá-lo no hotel.
Documentos oficiais escritos para serem enviados a outros países eram todos elaborados sob sua orientação. Não tive a felicidade de ver nenhum deles, mas ouvia o que Old Men contava.
O país, só produzia bananas e cola que exportavam.
O resto, ou seja, tudo, importado principalmente da Inglaterra.
Quando ele chegou aqui, trazia uma bagagem de décadas de saudade, inclusive da comida.
Ficou enlouquecido quando me viu na pia da cozinha, preparando um belo maço de brócolis que acabava de me ser entregue junto com outras compras.
- Filha! Vamos comer esses brócolis agora no jantar?!
Respondi que não, que a janta estava quase pronta e os brócolis eram uma verdura demorada para ser limpa.
Naquela época as verduras não eram envenenadas com pesticidas como as que comemos hoje e vinham cheias de bichinhos, vivos ainda!
Expliquei a ele que ficaria mergulhada em água e vinagre para matá-los e só depois, muito bem lavada para ser cozida. No dia seguinte, então, teríamos brócolis para o almoço.
Pra que?... Ficou bravo, aborrecido e disse que ao ver aquela verdura que nunca mais vira, sua boca já salivava e eu, queria fazê-lo esperar até amanhã, só por causa dos bichinhos?
Claro! Respondi.
Ele inconformado decretou: nada disso, os brócolis vão para a panela e os comemos no jantar. Vocês aqui são muito engraçados só comem bichos grandes! Porque esse preconceito contra os pequenos?
Morri de rir, fiquei com tanta pena dele, parecia uma criança aguada! Fiz uma enorme ginástica, atrasei o jantar, mas os brócolis e talvez os bichinhos foram para a mesa e ele os comeu como se fosse a melhor iguaria do mundo. Feliz comigo que o havia entendido. Eu, feliz também, mas como aqui em casa todos gostam muito de brócolis, mantive-me na moita, sem contar nada do que havia se passado na cozinha. Esse diálogo só ficou conhecido uns dois ou três dias depois. Durante o jantar minha atenção estava toda voltada para as expressões e movimentos de cada um, porque a qualquer momento eu esperava que alguém desse um grito de alerta, para denunciar a presença terrível de um bichinho na verdura.
Não aconteceu, felizmente.
Ele entendia tudo de cozinha, certamente por ser dono de restaurante e sempre ter sido essa sua atividade.
Aqui, ficava maravilhado com tudo, com a fartura, tanto o que comer e tanta a beleza!
Sua maior alegria era convidar os netos, os maiores para irem com ele ao “super marquet”, como dizia com sua pronuncia dura de inglês, o que aprendera lá, na Monróvia. Já falava o espanhol, aprendido na Espanha desde quando fugira de Portugal. Morou em Argel, onde aprendeu o Frances e o seu português, foi ficando prejudicado. No super, comprava muito, trazia coisas, como por exemplo, uma perna de cabrito já assada. Naquele tempo, não tínhamos esse costume de comprar no super mercado, ou mesmo no mercado Central, a comida já pronta. Ele comia de tudo, e bem! Cada vez que íamos para a mesa era o momento da conferencia do cardápio do dia, que servia também para ele recordar nomes que já havia esquecido. Tudo era bom! Ver, comer, lembrar do nome do alimento e até de algum caso relacionado a ele que lhe voltava à memória.
Que bom era tê-lo ali, em carne e osso!
E eu que sempre senti o quanto era diferente das outras meninas que tinham pai, naqueles dias, estava realizada! Sentia-me às vezes, até como uma menina.
Qual é o lugar de seu pai a mesa?
Aonde ele vai se sentar?
Que susto eu levava!
Estavam falando comigo, sobre meu pai, presente ali!
Na realidade, sua vinda e sua chegada, não foram assim tão simples.
Entre nós, sempre houve uma grande distancia física, mas agora, chegara a hora de um convívio real, chegara a hora do nosso reencontro.
A cada dia, a cada momento, uma surpresa para mim.
Esse “cara” tinha uma imaginação fértil e uma inteligência diferenciada.
Ao chegar seu telegrama, aos 29 de junho de 1973 iniciamos um relacionamento via correio.
Nunca falamos ao telefone.
Nossa correspondência se inicia desde quando lhe mandei a primeira carta.
Agora, esperava com uma enorme angustia que ele me desse uma notícia qualquer, sobre sua vinda ao Brasil, conforme combinamos.
Já era 22 de dezembro e nada...
Saí na parte da tarde, para ultimar os preparativos do Natal, que ele acenara de longe com uma pequena possibilidade de passar conosco.
Não vinha uma carta com orientação, minha tia não telefonava, ninguém dentre nós todos para quem ele escrevia, havia recebido nenhuma boa dica sequer. Silencio total.
Eu dizia, vou fazer isto, ou aquilo, antecipadamente, porque acho que meu pai vem passar o Natal com a gente.
Interjeições de uns e outros, sorrisos que disfarçavam a dúvida daquela vinda tão esperada por mim e por todos.
Mas eu, aquela otimista de sempre e confiando nas palavras que vinham dele, concluía que deveria sim, ter chegado uma, ou mais cartas, se ele não viesse.
Seu silencio me dizia “sim eu vou, estou chegando”.
A turma de casa me deixava em dúvida. Tinham receio de que eu tivesse uma grande decepção caso ele não pudesse vir. Se isso ocorresse, o Natal seria muito triste.
Com essa minha saída na tarde do dia 22, restava só para o dia 23, cumprimentar pessoalmente duas tias, como eu fazia todos os anos. Eu mal me aguentava fora de casa, porque queria estar ali na hora que chegasse uma notícia.
Quando sai nessa tarde, deixei em casa só o Rico, meu caçula temporão e a Ana Paula, minha afilhada, com as duas moças que trabalhavam comigo. Recomendei um bom comportamento e pedi que atendessem ao telefone com responsabilidade.
Na volta, os dois vieram correndo para me dar um recado recebido exatamente por telefone: um rapaz que disse trabalhar no correio queria falar comigo, mas como eu não estava, deixou com eles um importante recado que não poderia deixar de ser dado. Explicou a eles que por ser Natal, o trabalho nos Correios era muito, mas havia um telegrama para mim que não teriam tempo de entregar. Ele ia lê-lo para que eles anotassem e me transmitissem o que dizia e depois, se houvesse possibilidade, ainda me seria entregue.
O recado era simplesmente assim: estou chegando para o Natal e vou brincar muito com o Rico, mas sem correrias.
Esse telefonema deu pano pra mangas, todos temiam que alguém estivesse me dando um trote, fazendo uma brincadeira de mau gosto comigo. Parei, li o recado mais de uma vez e disse de imediato: foi do papai sim, o recado. Não tenho a menor dúvida, ele está chegando. Agora é só aguardar.
- Mas por que, de repente, tanta certeza? Todos queriam saber. Fácil, expliquei. Ele diz aí o que me disse em uma carta, que “brincaria com Rico”. Usou, sem combinarmos nada, um código perfeito, porque era estranha a forma como me avisava, mas era verdadeiro o conteúdo do recado.
Este o recorte da carta, datada de 12/11/1973, de onde ele tirou a senha que precisava para validar o seu recado.
Telefono para as tias e aviso que vou amanhã logo cedo abraçá-las e desejar-lhes um bom Natal. Amanhã às 8 horas saio daqui, porque depois faço plantão para esperá-lo.
No dia 23, como me propus, saí cedo e fui primeiro na casa da tia Lydia, que ficava ali na Iguatemi, antes de ser Avenida Faria Lima. Estava lá há uns dez minutos só, quando o telefone tocou. Era meu marido dizendo: - Aidinha volta logo que seu pai telefonou e está nos esperando no aeroporto de Congonhas. Vamos buscá-lo.
Fiquei louca! Mal me despedi de todos e saí. Essa minha volta para casa, deveria ter sido filmada! Assustei muita gente pelo caminho. Hoje me assusta pensar quanta coisa ruim poderia ter acontecido naqueles minutos em que eu estava “solta” pelas ruas. Peguei a Marginal Pinheiros e em alta velocidade, sai voando e ziguezagueando entre os carros. As janelas abertas, mãos sem segurar todo o tempo o volante, eu fazia gestos pra que se afastassem e gritava:
- Sai da frente que meu pai chegou!
Ria, chorava, o rosto banhado em lágrimas que as mangas da blusa enxugaram antes de chegar a casa. Parei junto ao meio fio na frente do portão, porque íamos sair imediatamente. Brecada brusca, puxado o breque de mão com a força que eu tinha, deixei o carro ligado e entrei correndo pela porta da sala que estava aberta. Mal passo a sua soleira, meu pai que estava nela encostado, agarrou me pelos cabelos, firmemente, e apertou-me contra o seu peito. Disse: - calma filha, pra que tanta pressa, já estou aqui. Abraçados, não trocamos nenhuma palavra.
Depois olhei para ele, ainda não o tinha visto, o coração quase saia pela boca!
Era ele mesmo.
Olhei depois para todos que nos olhavam com a emoção própria do momento e não era pouca, para conferir e ver se não faltava ninguém, porque quando saí, deixei todo mundo dormindo, mas queria que todos estivessem ali naquele momento.
Havia um a mais. Era meu sobrinho, o Glauco, filho do meu irmão mais velho. Esse seu filho, José, nasceu antes dos 18 anos do meu pai. Meu sobrinho morava no Rio e meu pai que tinha o endereço dele, chegou sem avisar ninguém mesmo, tomou um taxi e foi para a casa dele onde se encontraram. Foi de lá que veio o tal telefonema “dos correios”, que o Glauco fez sob a orientação do avô e eu entendi tão bem. Passaram o dia 22 juntos, pondo em dia toda uma vida.
Foi ali na porta da sala, na entrada da minha casa o nosso encontro e o nosso abraço, como se ontem estivéssemos estado juntos. Foi como ele queria que fosse e já tinha me explicado nas cartas que a emoção seria muita se não nos cuidássemos, tinha medo que seu coração não agüentasse.
Ele preparou tudo.
Assim mesmo, tomei um choque. Paralisei. Daquele momento em diante, só ouvi, não disse mais nada. Eu queria vê-lo, senti-lo, adivinhar seu coração. O homem, para mim era o mesmo que eu vira aos seis, ou sete anos de idade, quando foi embora. Naquele dia eu o reconheceria entre milhares de outros! Era meu pai!
Que sentimento mais estranho tomava conta de mim. Sentimento que até hoje busco interpretar, porque eu não queria só o que ele imaginava, queria muito mais.
Queria o pai para mim.
Queria compensar tantos anos de ausência, matar uma saudade dolorida, perguntar tanta coisa.
Já mencionei como foi feita a minha cabeça contra ele.
Ouvira casos contados, cujo final levavam sempre meu pai de roldão e ele era sempre o bandido, nunca foi o mocinho. Nem uma única vez. Por essa razão eu tinha a sensação de ser filha de um homem sem alma, nem coração, o que sempre me incomodou muito.
Pensava: se for verdade, vou ter muita tristeza, mas é esse o pai que tenho. Estava preparada. Porém se for mentira, como ficarei feliz e não será feita mais nenhuma injustiça contra ele!
Dentro desse propósito, avisei todos os parentes, tios, primos e amigos do tempo dele, que viessem, porque ele estava em minha casa.
As pessoas mal acreditavam e vieram todos visitá-lo.
Foram dias de recordar e foram dias de passar a limpo histórias mal contadas, porque eu procurava sempre introduzir aquele fato que havia me impressionado e que tinha sido passado entre meu pai e o visitante do momento.
Que bom, lembravam de tudo e eu pedia ao papai que ele mesmo contasse como foi tal fato. Pois é, ele contava tudo diferente e eu pedia o aval do mentiroso ali presente, com uma simples pergunta. Foi assim fulano, ou fulana, você se lembra tão bem como ele? Todas as respostas que eu buscava, na acareação que fazia sem que ninguém suspeitasse, foram a favor de meu pai e eu ali compreendi que tinha ouvido muitas mentiras contra ele pela vida a fora, com o propósito de me afastarem dele definitivamente. Não sei o que temiam. Sei que consegui ter meu pai de volta e consegui resgatar de dentro de mim o homem bom que ele era. Agora, para mim, livre das maldades de línguas e cabeças doentias e impiedosas, embora não fosse nenhum santo.
Para ele, nunca contei o que eu ouvira por toda a minha vida, tão pouco ficaram sabendo, nem ele e nem ninguém, que tais encontros não aconteciam de graça, mas cuidadosamente preparados por mim. A todos os que conheciam os fatos, parecia uma sorte ter ocorrido essa oportunidade de um reencontro Comentavam comigo e eu concordava com eles. Estava satisfeita, bastava o simples papo esclarecedor que de uma vez por todas deixava clara a vida do papai e suas atitudes. Ele recontava o fato, com detalhes e ninguém o desmentia.
Entendi, então, a sua paixão e fidelidade ao seu ideal.
Cobrei dele, uma única vez e uma única coisa: o fato dele ter tido filhos, se não nasceu com a vocação de se dedicar à família.
Sabe o que me respondeu o maroto?
- Os filhos vieram sempre sem que se esperasse. Acontecia.
Aí fui eu que quase subi pelas paredes!
Perguntei: papai, como? Então você não sabia que de uma relação sexual entre um homem e uma mulher, jovem e sadia como você, aconteceria certamente uma gravidez não desejada?
Ele sabia desviar do assunto e estava certo!
Agora, fazer o que? Já lá vão décadas!
Quando fugiu de Portugal para Espanha, ficou doente e precisou de uma enfermeira. Nem preciso contar o resto dessa história. Ela se apaixonou por ele e ato continuo, ficou grávida também. Que coincidência, não??? Desse terceiro descuido veio o terceiro filho. Nasceu José Carlos em Barcelona.
Esse para mim, foi seu grande erro.
Era um homem do mundo e nunca devia ter tido um só filho.
domingo, 19 de abril de 2009
Muito de Mim II
Assim se deu comigo, no decorrer da vida, até meus 39 anos, com relação ao meu pai. Sempre analisei o seu relacionamento comigo e com minha mãe, sob a forte influencia da família dela que realmente não queria saber dele! Era temido por todos.
Às portas dos meus 40 anos, entrei numa forte crise existencial e ao contrário do que senti sempre agora, só queria saber dele. Mas como? Estaria vivo? Aonde? Esse período da minha vida é bonito para mim, embora doloroso e se o fosse relatar agora, jamais chegaria ao ponto onde quero chegar depressa (o aeroporto, lembra?)
Fiz mil manobras, sem a ajuda de quem quer que seja e cheguei a minha tia, a irmã mais nova dele. Essa tia, por toda sua vida, julgava-se a maior vítima do que foi feito com ele. Ela e minha avó controlavam tudo da vida dele com relação a minha mãe e a mim, inclusive a correspondência que vinha de Portugal para minha mãe, era recebida por elas e entregue já aberta, pois vinha sempre dentro do mesmo envelope em que vinham as cartas para elas.
A interferência da família dele na vida dos meus pais foi responsável pela separação de ambos e pela animosidade que surgiu entre o casal.
Quando fui procurá-la, sabia que poderia ter uma grande decepção se ela não fosse sincera comigo, escondendo mais uma vez tudo sobre ele e obstando o que eu precisava saber para encontrá-lo. Mas, desta vez foi tocado o seu coração e ela me falou tudo.
Depois de hora e meia de conversa entre nós, sem se tocar no nome dele, ela me perguntou: Aidinha, você não quer saber nada do seu pai?
Meus olhos não seguraram as lágrimas e apenas disse – quero, mas tenho medo.
Ela, adivinhando a resposta que eu temia, respondeu – ele está vivo.
Aí, foram lágrimas de alívio e alegria. Foi um sentimento como o de se recuperar um tesouro perdido, ou encontrar a salvação diante de uma ameaça.
Ela me disse onde ele estava e porque estava tão escondido. Estava na Libéria, escondido da Interpol e de Salazar. De posse do seu endereço, imediatamente escrevi a ele uma longa carta contando tudo da minha vida e perguntado muito sobre ele.
A reposta chegou no dia 29/06/1973, dia de São Pedro e São Paulo, por um emocionado telegrama, ressalto, enviado para minha tia, que de pronto me ligou e leu-o para mim. Foi uma choradeira geral, nunca ninguém acreditou no sucesso dessa minha busca.
AGORA EU TINHA PAI!!!
Resgatei a cura para o mal que havia dentro de mim e que, antes disso, nunca tinha conseguido identificá-lo. Foi uma cura de alma!
Agora, passando ao largo de tudo quanto aconteceu nesses seis meses de correspondencia, chego aos 23/12/1973, quando ele chegou a nossa casa.
Até então, esse homem era um mito para os meus filhos e para os mais da família, que não o conheceram e tão pouco conseguiam entender o que realmente aconteceu. Daquele momento em diante, ele passou a ser uma pessoas como outra qualquer.
Era o meu pai e o vovo.
Quando ele não me deixou ir até lá, dizendo que ele viria porque assim poderia ver a todos, fui tomada por uma tremenda angustia, com medo de que ele fosse pego aqui, pois vivíamos os nossos duros anos de chumbo e seu nome, sem duvida, figurava, ainda, na lista negra dos inimigos do nosso regime.
Ele não me disse nada a respeito de como viria! Eu imaginava mil artifícios dos quais ele lançasse mão para chegar aqui, são e salvo, até que chegasse de carroça a nossa porta, disfarçado, com uma possível entrada por outro país sul americano, pensei mil coisas, mas não atinava!
No dia 23/12/74, como já falei, lá estava ele, dentro da nossa casa. Entrou tranquilamente pelo Rio de Janeiro e em voo doméstico veio para São Paulo.
Passadas as primeiras 48 horas nas quais eu apenas fiquei olhando para ele, boquiaberta, registrando todos os seus movimentos, suas falas, sua postura, tudo, consegui me recuperar de tanta felicidade.
Daí, era minha vez de interromper, perguntar, contar, comparar, lembrar datas, pessoas, fatos, enfim a nossa vida atrasada durante 36 anos de separação.
E perguntei, então,como ele conseguiu entrar com tanta facilidade no Brasil, sem ser minimamente molestado.
Calado, foi buscar seus documentos e mostrou-os a mim. Não era Cypriano da Cruz Affonso, mas JOSÉ REBELLO. Que coisa incrível como aquilo me incomodou! E ele me disse – o que é que tu querias, que eu arriscasse a pele mais uma vez e tentasse entrar aqui com minha verdadeira identidade? Filha, seria preso no ato e talvez voces nem me vissem mais! Concordei, claro, mas o documento perfeito me impressionou. Mais uma pergunta, para saber como ele havia conseguido aquela falsa identidade, ao que me surpreendendo mais uma vez, riu à vontade e disse: eu mesmo a preparei. Era de um amigo meu, que quando veio a falecer, a sua família me deu todos os documentos dele, exatamente para uma necessidade como a que tive agora.
É! Coisas de companheiros, sem dúvida! Pensei.
Bem, agora já estava aqui e pronto! Nada de ficar encucada com “pormenores” de somenos importância...rsrsrs
Passamos um Natal maravilhoso e cheio de emoções.
Já tínhamos combinado de em seguida viajar para Vitória, onde alugamos uma casa em Vila Velha, num morro, linda, frente para o mar. Todo mundo fez a cabeça dele e ele acabou cedendo e foi também conosco para lá. Porem impôs uma condição, porque iríamos de carro e ele achou que era muito a enfrentar. Mil quilômetros espremido num carro, bagagem, criançada, paradas, não. Voces vão na frente e eu vou com a minha filha de avião, fazemos os nossos horários de um jeito que quando lá chegarmos vocês estejam no aeroporto a nossa espera.
Muito bem. Todo mundo achou ótimo.
Enfim eu teria umas horinhas sozinha com meu pai e poderiamos falar pelos cotovelos!
Foi o que fizemos.
Embarcamos em Congonhas com destino ao Galeão. Lá, fizemos o nosso check-in, despachamos a bagagem e, tranquilos, enquanto esperávamos o embarque para Vitória, pudemos papear.
Nesse dia, o Galeão estava tão cheio, que no saguão onde esperávamos, todo mundo estava espremido. Não seria possível abaixar-se normalmente, para pegar do chão algo que caísse, pois na certa, com o efeito cascata derrubaríamos um monte de gente. Ali, era um vozerio, misturado a todos os demais ruídos próprios do lugar e quem quisesse conversar, como nós, tinha mesmo que prestar atenção ao seu interlocutor. Nós dois, sempre falantes, naquela oportunidade, não deixamos por menos. Passado algum tempo, que nem sei precisar quanto, percebi que o saguão já estava mais vazio. Ué! Disse ao papai: será que esse avião não sai hoje? Que demora! Acho melhor irmos ao balcão perguntar o que está havendo.
Ao chegarmos lá o funcionário pegou a passagem do papai e disse: A! Então o senhor é o seu José Rebello que cansamos de chamar pelo alto falante! O senhor não ouviu? Foram umas quatro ou cinco vezes que o chamamos. Nós nos entreolhamos, uma vontade enorme de cair na risada, porque ele, o espertinho, se esqueceu que era José Rebello. Eu tinha obrigação de me ligar? O falsificador era ele! Quem estava usando documentação falsa era ele, então ficasse atento! É muito natural que Cypriano não atenda a chamada por José... Mas nós não perdemos a pose diante da turminha que queria nos ajudar a solucionar o problema que tínhamos agora.Não faz mal disse o papai. De fato não ouvimos a chamada, talvez pelo barulho, desculpe, mas agora já estamos aqui. O funcionário respondeu, mas o avião não está mais, foi embora, não podia atrasar tanto!
Aí, a nossa cara de paisagem, deve ter causado pena em todos que estavam ali por perto e começaram as sugestões. Era uma sexta feira. Próximo avião para Vitória só na segunda. Não havia telefone celular, a casa não tinha telefone e o único meio de comunicação se quiséssemos avisá-los, seria por telegrama. Alguém disse: porque vocês não vão de teco-teco? O papai estava atrás de mim, e logo a voz dele no meu ouvido, numa frase arrastada:- filha é “pirigoso!”. Fala um, fala outro, resolvemos ir de taxi. Foram mais umas 5, ou 6 horas de estrada e quando chegamos, todos já estavam deitados, mas dormir não conseguiam!
Era uma enorme preocupação sem saberem o que teria acontecido a esses dois patetas. A gozação dura para sempre. Até hoje não posso viajar de avião sozinha que logo vem a recomendação: -ve se vai ficar de papo lá com alguém e perder o avião, como fez com seu pai hein?! Nunca mais se esqueceram dessa mancada! Isso acontece para quem erra, mas fazer o que? Errar é humano.
Curti mais essas abençoadas horinhas com ele, falamos a viagem toda.
Sentado ao lado do motorista, ficava todo torto, virado para trás, segurando a minha mão.
Tudo que deve acontecer entre um pai e uma filha, de dezembro de 73 a abril de 74, vivi intensamente com ele. Inclusive nos desentendiamos quando ele queria fazer a minha cabeça, para que eu me filiasse ao partido comunista. Aí dava briga, porque por esse idealismo desmedido, é que eu e meus irmãos (filhos de outras duas mães), não o tivemos conosco.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Muito de Mim - Parte I
Falaria, então, da minha vida, do que ela me ensinou, do que até hoje tenho experimentando no corpo e na alma, pois nada melhor do que em determinado momento, parar calmamente, recapitular tudo com a tranquilidade de quem acredita que a tormenta passou.
É importante para mim que as pessoas com quem estou me relacionando virtualmente, e delas me aproximei pelas portas do “Curso Livre”, saibam muito de mim, porque as considero tão amigas/os como os que tenho na vida real.
Sinto que não deve haver entre nós uma comunicação longínqua e superficial, por ser o nosso convívio via Internet.
Já pude neste pouco tempo de blog spot, mostrar a todo mundo que sou um bocado brincalhona.
É verdade, mas quero que tenham a certeza do respeito que guardo por todos que até aqui tive ocasião de conhecer.
O Eduardo PL, teve que aguentar a gozação da sua ida equivocada ao aeroporto, mas o certo é que nós todos aprontamos coisas parecidas. A diferença é que alguns ficam caladinhos e não contam a ninguém o que aprontaram, desde que a arte lhes permita que se a esconda!
Afinal, errar é humano!
Quando lí o que ocorreu com ele, me veio à memória, meu pai e o que nós dois aprontamos no Galeão, em 1974.
Vou ao começo para não perder esta oportunidade de contar a todos um pedacinho da minha vida e porque tenho que o fazer, pois do contrário ninguém entenderia muito bem a nossa “história do aeroporto”.
Meu pai, portugues, nascido em Trás os Montes, Distrito de Bragança, norte de Portugal, veio para o Brasil com meus avós e os demais filhos, que eram muitos. Ele deveria ter no máximo uns cinco anos. Jovem ainda tornou-se comunista e ajudou a fundar o PC do B..
Este detalhe fiquei sabendo há menos de dez anos, através do seu prontuário, que busquei em vão anos a fio conseguir, mas que só foi possível, quando tornados públicos os documentos até então ocultados pelos governos autoritários que tanto nos castigaram. Os “inimigos do governo” como eram chamados os comunistas e os contrários ao governo fascista do Getúlio, perseguidos, presos, banidos, ou mesmo mortos pelo regime, foram vigiados incessantemente pela sua polícia, com destaque para o temido DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda, que exercia o controle ideológico de toda a nação, censurando os meios de comunicação e exercendo um rígido controle sobre a opinião pública. Todos eles, “os inimigos do governo” que foram pegos, tem lá arquivado no Patrimônio Histórico de São Paulo, hoje integrado à Estação Pinacoteca, o seu prontuário, ou dossiê contando a nossa história. Está tudo arquivado no espaço físico, onde funcionava o DOPS - Departamento de Ordem Política e Social, que nos anos de chumbo, passou a ser o DEOPS, exatamente onde meu pai esteve preso e foi torturado, além de ter estado também no presídio Maria Zélia onde ficou por muito tempo.
Getúlio Vargas, então ditador, assinou a portaria de expulsão de meu pai, devolvendo-o para sua terra natal. Tudo o que ele fez, foi apurado pela polícia do Getúlio e consta do seu prontuário, de nº 208. Foto da capa, acima, ao lado. Atrás desse documento, dessa portaria, ando até hoje, mas nunca consegui saber como obte-la e ninguém sabe me informar aonde está.
Discordava, sua ideologia com a do ditador.
“Crime” que muitos cometeram e pagaram caro por isso. Ele ficou longe de Vargas, mas sob os olhos não menos vigilantes de Salazar, com quem logo se desentendeu e de quem teve que fugir. Por isso foi posta no seu encalço a INTERPOL.
Eu, na qualidade de filha e ainda muito pequena, perdi-o por obra e graça da sua ideologia política, e pela força de quem tinha mais poder. No entanto, toda a vida tive de meu pai, uma lembrança muito marcante quanto à sua figura (sempre o vi como um homem lindo!), mas quanto ao restante, fiquei sob os cordéis de comando de toda a família de minha mãe, que manipulava o meu inocente pensar quanto a ele, e na condição de verdadeira marionete, agigantavam-se e conviviam dentro de mim, como num efervescente caldeirão, sentimentos de perda irreparável, temperados pela saudade e envoltos em amor e ódio, com os quais eu não sabia lidar.
Nem tudo numa história de vida é só tristeza, ela, também teve reservados para nós, alguns doces bocados que vocês logo saberão, na continuidade deste relato que faço, com todo meu amor e claro, sob meu ponto de vista, porque esta vida que estou aqui relatando, foi também a vida de outras pessoas e por certo, cada uma a interpretou ao seu modo, conforme sua sensibilidade.
Logo retorno e conto mais.... Lisboa 1942
Aidinha