sexta-feira, 29 de abril de 2011

Viajando nos mapas do século XIX

Como o mundo é pequeno para os nossos sentimentos! Se o nosso coração se abre, atinge a nossa mente e as emoções afloram. Para elas, o espaço apropriado realmente é o infinito. É ele, porque não conhecemos, nem imaginamos o seu tamanho, mas, também não sabemos a extensão sem medida, das nossas emoções. Sentir... sentir tudo ali, vivo, fundo! Vibrar, sorrir, alegrar-se, sofrer, chorar, morrer de saudade. Também há dores. Dores da alma que nunca se esquecem e dores físicas que deixam suas cicatrizes. A minha, a mais antiga que nunca desapareceu, está aqui, embaixo do meu queixo, feita por um arame farpado, quando eu galopava feliz e não o via estendido à distância, de um lado ao outro, onde eu passaria. Milagre, por certo, porque resultado disso deveria ser uma degola sem escapatória. Mas há comigo uma força do bem que sempre me tira dessas situações indesejáveis! Todos que me olhavam sem poder fazer nada, apenas gritavam para me avisar, mas eu nada ouvia. Esperavam o pior. Quando vi o arame que estava já bem próximo de mim, instintivamente suspendi a rédea com o braço esquerdo estirado, forte como nunca! Joguei para trás minha cabeça, penso que defendia meus olhos além do próprio pescoço, e o animal foi forçado a diminuir sua velocidade. Ainda assim, enquanto o arame rompeu um lado da rédea e metade do outro, chegou até meu pescoço e uma daquelas pontas que vem nele enrolada, enfiou-se dentro de mim. Correram todos para me socorrer e eu, montada, ainda, puxei o arame rasgando uma boa extensão de carne, onde poderia ter sido feito apenas um furo. Daí a cicatriz. Quando apeei vi minha blusa toda ensanguentada, então sim, desmaiei. Medo do que já havia passado, consciência do que tinha me livrado, total estresse como se diria hoje. Era ali, onde passa o Rio Verde, afluente do lindo e majestoso Paraná, na Fazenda Orelha de Onça. Tinha ido para lá a passeio, com os pais da Georgina, ela, minha grande amiga do colégio e moradora dali do Porto Epitácio, cidade onde eu também morava. Meu Deus! Que natureza! Que beleza, que alegria, que encanto esse início de adolescência! Na época, quase infância... Quanta inocência ignorada e quanto sofrimento já! Hoje, em cartas geográficas do século XIX, do acervo da Biblioteca Nacional, lá vou eu na primeira olhada, encontrar esse canto do mundo onde estive, onde durante 3 anos, conheci um Brasil sertanejo, que só Euclydes da Cunha para descrever. Quando fala da terra, lê-lo, é estar lá. Sentir o cheiro da mata, os arranhões nos braços se não estivessem bem protegidos apesar do calor, ouvir o esturro da onça ao lado da janela do seu quarto. Vida que nunca mais viverei nem por um só minuto para recordar! Que pena! Aqui o link para o mapa do meu pedaço. http://www.wdl.org/pt/item/970/zoom.html Aqui para a Biblioteca Nacional, os mapas, maravilhosos. http://www.wdl.org/pt/ Aidinha