segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Centenário de Nascimento

Era uma terça feira, 16 de agosto de 1910. Em Mira, distrito de Coimbra, Portugal, nascia Alice, minha mãe, filha de Maria Rosa Domingues Pires e Francisco Ignácio Pires. Hoje comemoro o centésimo aniversário do seu nascimento. Sua vida não foi fácil, criou-me sem meu pai, com a ajuda de sua mãe, trabalhando todos os dias do ano, durante dezenas de anos, para suprir as nossas necessidades. Ela conseguiu e não conseguiu mais, por ser uma pessoa rigorosa consigo mesma e fazer apenas aquilo que lhe parecia certo, sem pretender facilitar a vida, por exemplo, com um casamento por conveniência, que lhe valesse uma belíssima aposentadoria e uma vida tranquila, sem os percalços que teve de enfrentar. Essa chance teve mais de uma vez. Sempre, por uma razão ou outra, desenganava logo o seu pretendente. Quando o aceitou, era uma pessoa modesta, que vivia de seu trabalho como dentista, e podia lhe oferecer pouco a mais do que já tinha, tendo ela, ainda, que continuar, embora com menos rigor, com seu trabalho e suas aulas de corte e costura, lá no interior de São Paulo, onde fomos morar, em virtude dessa união. Dizia que o aceitou porque o amava. Era uma mulher bonita, inteligente, elegante e no meu modo de ver, cheia de charme. Uma de suas irmãs, tia Lydia, sempre me chamou de “Cyprianita”, pois via em mim todo o meu pai. Assim cresci, pensando ser realmente parecida com ele, com Cypriano. Mas, só com ele! Nunca me vi com traços, ou modos de minha mãe. No entanto, na minha vida madura, muitas pessoas afirmavam que eu me parecia muito com ela. Sempre revidei e alegando que assim viam por não terem conhecido meu pai. Hoje, passados dez anos de sua morte, não só me acho parecidíssima com ela, como em alguns momentos tenho gestos e modos de ser que me assustam, fazendo-me pensar que sou ela outra vez! Foi uma mulher que nunca desanimou nos momentos mais difíceis da vida. Lutou, buscou seus meios de ganhar dinheiro, sempre explorando seu lado criativo e perfeccionista. Trabalhou muito e sua imagem mais viva para mim, é ela costurando (fazia alta costura e tinha clientela da alta sociedade), ouvindo música sempre e na maior parte das vezes, cantando, cantando muito! Era alegre e espirituosa. Novidadeira, louca para ter sempre uma surpresa para o primeiro que chegasse. Parece-me às vezes, que já vivi centenas de anos, quando me lembro de minha mãe durante a noite, costurando e ouvindo seu rádio de galena, que seu sobrinho, o Walter lhe havia montado. Era um artefato muito simples, que só uma pessoa podia ouvir. Imaginem o que me ocorre agora, que engraçado! Esses rádios, no começo do rádio, eram a antecipação dos Ipod´s e desses Mp3 auriculares, sucessos de hoje. Assim era sua vida. Muitas noites eu adormecia e pela manhã, ao acordar ela ainda estava lá, terminando a sua costura, um vestido com dia e hora certa para ser entregue. Foi grande o sacrifício. Por fim, seu último quarto de século de vida, mais precisamente vinte e seis anos, viveu comigo, em minha casa. Só então, penso que foi plenamente feliz e fez exatamente o que sempre gostou de fazer. Cozinhava divinamente, era doceira para bem fazer e melhor comer os doces maravilhosos que fazia, fazia crochê, costurava, viajava para a casa das sobrinhas que tinha morando no interior, era festeira alegre e prestativa. Partiu faltando apenas vinte dias para completar noventa anos. Vida longa, recebeu grande ajuda de grandes amigas e deu muito a outras tantas! Herdei todas as suas velhas amigas, eram de primeiríssima qualidade! Quem dera eu puder chegar ao meu fim, contabilizando tantas amigas como as tantas que ela teve. Assim, numa demonstração de afeto, comemoro hoje os seus 100 anos, acreditando que muito do que sou, devo a ela e por isso só tenho a lhe agradecer. Mamãe, receba o carinho de nós todos, onde quer que esteja sua energia. O Rico em especial, com saudades, envia parabéns à Pratinho (porque ela era Pires e ele a promoveu!). De sua filha, receba muito amor. Aidinha

Um comentário:

  1. Aidinha:
    Que Deus faça com ela continue feliz por lá.
    Também tenho essas sensações de me parecer muito com minha mãe. De ter a paciência e tolerância que ela tinha, na aparência física também.
    Isso me deixa feliz, porque admirava muito minha mãe.
    Você com seu jeito carinhoso e bondoso, tenho ceretza, é apenas uma bela cópia de sua amada mãe.
    Um beijo grande.

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